
Naquela madrugada não realizei o que íamos fazer, não dei conta do acto em si...O cap. Salgueiro Maia convidou-nos a ir para Lisboa fazer um golpe de Estado, era 1,00 hora da madrugada de 25 de Abril de 1974, tínhamos apagado a luz da camarata há coisa de 15 minutos.
Era uma linguagem a que não estávamos habituados e pensámos tratar-se de acção psicológica, de mais uma instrução nocturna...contudo achámos que desta vez o nosso comandante de esquadrão estava a ir longe demais.
Verdadeiramente só começámos a acreditar, no momento em que fizémos fila para receber munições e granadas reais....Alto...qualquer coisa se passa! Todos responderam ao convite, ninguém quis ficar no quartel; com o cap. Salgueiro Maia iríamos até ao fim do mundo, e, medo era coisa que não tínhamos, ou não tivéssemos 20 e poucos anos.
Houve momentos de tensão, não posso negar, mas todos juntos e com a ajuda do povo, conseguimos levar a melhor. Não esqueço a coragem daquele homem, em cima dos carros de combate, de megafone na mão. Definitivamente o regime tinha chegado ao fim, e, por Deus, de uma forma pacífica.
Assistimos à rendição dos membros do Governo que se tinham refugiado no Quartel do Carmo, entre eles o Presidente do Conselho, Prof. Marcelo Caetano. O acolhimento da população foi memorável e o regresso a Santarém, quase impossível, com tantas pessoas à nossa passagem.
No fim de tudo, dei-me conta que tinha ajudado acabar com o regime que tanto mal fizera ao meu Avô...ironia do destino!
Francisco de Sousa Mendes
(Neto de Aristides de Sousa Mendes)
Copiei este testemunho do Blog URBAN JUNGLE
1 comentário:
Este trabalho de compilação de testemunhos é notável, venho por aqui lê-los e dei-me agora conta da dimensão deste comovente relato do neto de Aristides de Sousa Mendes. Há coincidências extraordinárias, porque estaria este rapaz nesta coluna, para ajudar a fazer justiça a seu avô?
Beijos para ti.
Branca
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